Eventos inéditos são uma realização da Fenapestalozzi e têm percorrido todas as regiões do país.
De 1 a 4 de outubro, aconteceu, na cidade do Rio de Janeiro, o Fórum Regional de Autodefensores e o Encontro Regional de Famílias do Movimento Pestalozziano, uma realização da Federação Nacional das Associações Pestalozzi — Fenapestalozzi. Esta foi a segunda etapa dos eventos na região Sudeste, que teve sua primeira edição dedicada às experiências das Associações Pestalozzi do Estado do Espírito Santo. Esses eventos contaram com o apoio do Governo Federal, por meio da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
Confirmaram presença na segunda etapa dos eventos na região Sudeste as organizações pestalozzianas do Estado de Minas Gerais: Pirapetinga, São João Nepomuceno; de São Paulo: Americana, Mauá, Osasco, Paulínia e Sumaré; e do Estado do Rio de Janeiro: Angra dos Reis, Araruama, Barra Mansa, Cachoeiras de Macacu, Cantagalo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaocara, Itatiaia, Magé, Maricá, Niterói, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Petrópolis, Pinheiral, Resende, Rio das Ostras, Rio de Janeiro, São Gonçalo, São João do Meriti, Silva Jardim, Barra do Piraí e Volta Redonda.
Ester Pacheco, presidente da Fenapestalozzi, ressaltou a importância da dedicação de cada participante em contribuir para a construção de “Caminhos para Autonomia Plena”. Esse foi o tema norteador dos eventos que têm alcançado todas as regiões do país, promovendo encontros, trocas de experiências e aprofundamento de compreensões sobre os direitos sociais das pessoas com deficiência e suas famílias.
“Cada um de vocês, autodefensores, familiares, colaboradores e gestores têm contribuído nessa luta. Tenho certeza que cada um está fazendo o seu melhor pelo Movimento Pestalozziano e vamos, juntos, conquistar muitas coisas para as pessoas com deficiência”, diz Ester.
LUTA ANTICAPACITISTA E DEFESA DE DIREITOS
O capacitismo é uma forma de preconceito muito específica que interpela as pessoas com deficiência e se situa como uma barreira para o acesso a direitos. Para o conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Conade) e representante da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), Márcio Castro de Aguiar, a luta contra o capacitismo é uma ação que deve ser coletiva e envolver toda a sociedade.
“O direito está na lei e a gente não deve abrir mão dele, porque a gente deve combater o capacitismo acima de tudo. Porque as pessoas não acreditam na nossa capacidade [de pessoa com deficiência]. Ninguém é protagonista sozinho. Não existe o ‘eu’ acima do ‘nós’”, diz Márcio.
Carla Cherene é coordenadora estadual de autodefensoria e palestrou a respeito do capacistimo nos eventos. Ela ressaltou que essa barreira que o preconceito impõe às pessoas com deficiência causa muitas dores emocionais, também, de modo que é preciso cuidar do emocional para o fortalecer as pessoas, nutri-las de autoestima e conhecimentos sobre direitos sociais. “Quando a gente fala de afeto é por que gera sentimento, gera reações, né? E o capacitismo é uma manifestação de discriminação e preconceito referente a uma pessoa com deficiência”.
Atualmente, uma das maneiras mais socialmente aceitas e subestimadas de capacitismo e preconceito social é o uso de uma linguagem pouco acessível. É como se por meio do que é dito, e à maneira como é dito e escrito um determinado tema, acabasse por excluir as pessoas. Isto é, desde a escolha de palavras de difícil entendimento para pessoas com deficiência intelectual e não letradas, a maneira como são escolhidos os formatos do texto, resultasse em uma ação de exclusão e marcador de classe social.
A Coordenação Nacional do Movimento Nacional de Autodefensoria Pestalozziana — Monpad, é realizada pelas profissionais Rafaela Parducci e Ivana Lopes, que realizam assessoramento aos autodefensores. Rafaela fez um alerta de que o compromisso em comunicar de modo simples e responsável deve ser uma tarefa realizada cotidianamente, nas instituições, escolas, órgãos governamentais, em suma, em todos os espaços de participação social e política das pessoas com deficiência. “No nosso dia a dia, devemos ter o compromisso em trazer mais essa linguagem simples, principalmente para dar acesso comunicacional para as pessoas com deficiência intelectual. Isso é essencial para que elas tenham acesso aos seus direitos”, explica Rafaela.
As coordenadoras Nacionais de Família, Antonieta Bonifácio e Cícera Lopes, realizam um trabalho específico com as famílias, de acolhimento e desconstrução de preconceitos. Para elas, é no seio familiar que a pessoa com deficiência receberá os aportes necessários para a construção da autonomia na vida social em outros ambientes que, por vezes, são inadequados para receber e favorecer a experiência daquelas. “É que quem precisa se adaptar, não é a pessoa com deficiência à sociedade, ao mercado de trabalho, àquele empresa, àquela escola. É a empresa e a sociedade que precisam, na verdade, se adequar à pessoa com deficiência”, explica Cícera.
AUTODEFENSORIA PESTALOZZIANA E SUAS MÚLTIPLAS VOZES
Autodefensores da região Sudeste, especificamente dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, contribuíram para a visão do Movimento Pestalozziano sobre o que significa a autodefensoria, como ser uma pessoa com deficiência autonônoma e com vida participativa na sociedade. Para a autodefensora Nacional Flávia Tissiano, a conquista da autonomia da pessoa com deficiência intelectual e múltipla não deve significar desamparo e falta de apoio. “Protagonismo é isso, é você ter a sua história de vida. É você ter a sua autonomia. Ter o apoio da Pestalozzi, da família e de todos”.
Já para Jonas Pontes, também atuodefensor Nacional, ser autodefensor e ter dedicação na busca por efetividade de direitos. “O autodefensor, ele representa e defende os direitos das pessoas com deficiência. E sempre vai defender e sempre vai falar da pessoa com deficiência”, finaliza.